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"And her hearing aid started to melt..." Vol. XV

Sonotone do dia:

Matisyahu

Matisyahu: Youth (Março 2006)

Veredicto:

Só para o improvável caso de o gentil leitor não ter dado por isso, a Globalização já existe. Tem coisas porreiras, tem coisas desagradáveis e tem coisas estranhas. Ou seja, é uma espécie de cocaína geográfica e cultural. Ora é precisamente essa Globalização que faz com que, a 22 de Junho, possa o cidadão português ver um espectáculo de Matisyahu no Coliseu dos Recreios, em Lisboa. Incluindo-o no raciocínio, Matisyahu é uma das coisas estranhas da Globalização, para não dizer da Civilização. A diplomacia far-me-ia dizer a coisa de outra maneira, mas a economia de espaço obriga-me a dizer, sucintamente, que Matisyahu é um praticante judeu norte-americano que escolheu, vamos lá, uma forma maioritariamente jamaicana para exprimir-se - o roots reggae, o dancehall, o ska ou um pedacinho de cada um. A revista Esquire (que não deixa de não constituir exemplo para ninguém) chamou-lhe "o mais misterioso artista do reggae do mundo". Tem razão. E, no meio disto tudo, Matisyahu soa mais aos meus preciosos Sublime infectados pelos piores tiques do rock à conta de convictas facadas infligidas por Sizzla do que a uma coisa, digamos, jamaicana. É conferir, sobretudo, o álbum Live at Stubbs, do ano passado (certamente um dos poucos discos ao vivo que aqui mencionarei; detesto-os). Bom, Youth é o segundo álbum de estúdio de Matisyahu e, logo para começar, é em boa parte produzido por Bill Laswell, o homem que tanto é capaz de produzir um dub de fino recorte como de assassinar as canções de Bob Marley. E é um disco que anda perfeitamente entre aquilo que para aqui estou a escrever. O problema é que Life at Stubb's, mesmo sendo "ao vivo", continua a soar muito melhor do que Youth, que, lá para meio, começa a fabricar viscosidade. Mas dizer que Matisyahu é uma coisinha má é exagerado. Não é uma coisinha má. Também no rock cristão não há-de ser tudo uma trampa, suponho. Matusyahu é um jovem de 26 anos, bem intencionado e que sabe fazer a sua coisa, que é apropriar-se do património jamaicano para emitir mensagens de paz e amor e essas coisas. Isso é, digamos, bom. Mas como quem não é purista em relação à música jamaicana não a ama verdadeiramente, há por Youth elementos que Lee "Scratch" Perry dispensaria sem hesitar. Realmente a sério, Matisyahu é um gajo para descobrir. Para ficar a conhecer em parte, pelo menos, já que o retrato completo não se lhe tira com facilidade. E atente o estimalo leitor que no dia 22 de Junho a coisa não deve ser nada má no Coliseu dos Recreios, se conseguir hibernar numa abstracção em relação à "geração Gentleman". 69,3% de satisfação garantida.

Mas isto pode ser do meu ouvido, que é 1 pouco mouco.

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